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sábado, 29 de outubro de 2011

Boxe Chinês - A origem do Kung Fu – O desenvolvimento do Sanda e suas qualidades físicas na questão fisiológica

A origem do Kung Fu – o desenvolvimento do Sanda e suas qualidades físicas na questão fisiológica


A origem do Kung Fu
Como uma arte tradicional, o Kung Fu faz parte da grande herança cultural do povo chinês. Sua origem pode ser encontrada na pré-história, onde nossos ancestrais eram obrigados a lutar contra animais e outros homens a fim de garantir sua sobrevivência (Ji,1986). Na luta entre tribos, os guerreiros compreenderam que, para derrotar o inimigo, era importante não só possuir boas armas, mas também melhorar a capacidade física e as habilidades de combate através de treinamento intensivo nos tempos de paz. Este treinamento melhorou essas capacidades e habilidades e propiciou o surgimento de várias artes marciais ao longo dos séculos, dentre elas o Kung Fu. Alguns livros afirmam que essa arte marcial é conhecida pela inspiração nos movimentos dos animais e com preocupações de saúde e defesa pessoal há mais de 5000 anos (Minick,1975).

A Federação Paulista de Kung Fu (em “A Origem da Expressão Kung Fu”, 2003) explica a utilização desta palavra e a equivocada utilização da mesma em associação à arte marcial. O Kung Fu é uma expressão antiga que genericamente, no dialeto cantonês, significava “tempo e esforço desprendido numa atividade” ou “grau de perfeição alcançado em qualquer área de atuação”, ou ainda, “conhecimento profundo de um assunto”. Na década de 70 essa expressão utilizada para denominar as artes marciais chinesas, ficou mundialmente conhecida através dos filmes de artes marciais. Entretanto, a expressão gramaticalmente correta para designar a arte marcial é Wushu (arte marcial), originária do mandarim.

Complementarmente, Ortega (1997) observa que essa arte marcial deve ser vista como atividade esportiva sistematizada e com regras próprias, medidas que permitiram a organização de torneios e campeonatos. Pode-se caracterizar as competições em três tipos, formas ou rotinas (Kati), combinadas (Toi Chat) e os Combates (Kuoshu e Sanshou). A primeira diz respeito às sequência de movimentos inspirado nos movimentos dos animais contra um ou mais adversários imaginários; a segunda, confronto envolvendo dois ou mais atletas com movimentos de ataque e defesa pré-determinados; e a terceira, que é o embate direto entre dois adversários, no qual são avaliadas as qualidades técnicas, táticas e físicas de cada um.


O desenvolvimento do Sanshou
Há alguns séculos, na China, eram realizados combates entre grandes lutadores sem nenhum tipo de regra onde ocorriam mortes de grande número de mestres, ocasionando várias perdas (International Wushu Federation, 2003). A partir de 1960, sob tutela do governo chinês, o Sanshou Moderno foi introduzido como desporto. Para isso, convocaram-se diversos mestres para que fossem sistematizadas regras que fossem iguais para todos, surgindo então essa nova modalidade de luta.

Também conhecido como Sanda (Cantonês), que tem como tradução “mãos livres”, essa modalidade começou a ganhar força à partir do 1º
Campeonato Mundial de Kung Fu Wushu, realizado em Pequim na China, em 1991, tendo rápido crescimento e atingindo grande popularidade em todo o mundo. Hoje, está presente nas competições de mais de 75 países e, recentemente, nos Estados Unidos, Ucrânia e Itália foram criadas Ligas Profissionais para esta modalidade. A seleção da Rússia vem se destacando e no ano de 2004 está entre as cinco melhores seleções de Sanda do mundo conforme relato do 7º World Wushu Championship and the 7º IWUF Congress (2003).

Fontes energéticas e o Sanshou
A International Wushu Federation (2003) informa que uma luta de Sanshou tem duração de dois minutos corridos em cada round por um minuto de descanso, sofrendo interrupções sempre quando houver algum tipo de queda (quando um ou os dois atletas caem no chão) ou “clinche” dois oponentes se agarram por mais de três segundos), podendo ainda haver até um quarto round caso a disputa esteja empatada. Baseando-se na temporalidade da luta e fazendo analogia com a luta greco romana, semelhante ao estudo de Kraemer e Hakkinen (2004), aponta-se que a energia exigida no combate é fornecida predominantemente pelo sistema anaeróbio, mas com participação do aeróbio.

Ao iniciar a luta, a energia necessária para desferir os golpes é proveniente do ATP (adenosina trifosfato) e CP (fosfocreatina) estocados no músculo. No decorrer da disputa, onde altas produções de potência são exigidas através de socos e chutes desferidos com o máximo de força e velocidade, esses estoques são depletados (períodos maiores que 10 a 20 segundos) e, a partir daí, a energia é provida pelo sistema do lactato que se utiliza apenas dos carboidratos para a produção de energia. Mesmo com o auxílio do sistema aeróbio, a referida via pode ser mantida por no máximo entre 2 e 5 minutos, o que ocasionaria um déficit de energia caso a luta durasse o tempo máximo de 8 minutos. Isso mostra a importância de se trabalhar exercícios aeróbios também para os atletas.

Quanto ao metabolismo anaeróbio, Kraemer & Hakkinen (2004) citam que a principal fonte de energia na luta greco romana é proveniente do sistema anaeróbio, principalmente do sistema do lactato. Outros estudos realizados com o judô demonstraram a relevância do sistema anaeróbio lático (Franchini, 2001). Del Vecchio e Mataruna (2002) citam ainda que, nos desportos como o judô, karatê, taekwondo entre outros, utilizam-se do sistema anaeróbio alático quando a ação (o golpe) é explosiva, única e eficiente, e lático quando acontecem explosões sucessivas até a finalização ou intervenção de pausa.

Preparação Física
A preparação física de atletas deve ter respaldo dos princípios existentes que regem a dinâmica do trabalho e da capacidade de rendimento, porque treinadores e preparadores físicos que não se preocupam com esses princípios estão condenados ao fracasso (Viru,1991a). Atualmente, são raros os esportes Movimento & Percepção, Espírito Santo de Pinhal, SP, v.6, n.8, jan./jun. 2006 – ISSN 1679-8678 onde não seja utilizada a musculação como método de aprimoramento do desempenho física, mas geralmente esses programas de musculação são realizados sem a observação das variações de volume e intensidade que qualquer conteúdo de treinamento deve sofrer dentro de uma periodização
(Hernandes Jr., 2000).

De acordo com BOMPA 2002, a preparação física deve ser desenvolvida conforme a sequência a seguir:

Período de treinamento
Período preparatório
Período competitivo

Desenvolvimento
1
2
3
Objetivo

Preparação física geral

Preparação física específica

Aperfeiçoamento das capacidades
Biomotoras específicas

Quadro 1: Abordagem sequencial para o desenvolvimento da preparação física (Adaptado de Bompa, 2002).

Na Preparação Física Geral (PFG), o objetivo é melhorar a capacidade de trabalho do atleta independente do desporto. Quanto mais amplo (em relação ao tempo) e forte (quanto à intensidade e volume) for, maior é o nível das capacidades biomotoras que o atleta poderá atingir. Nesta fase, deve prevalecer um volume alto de treinamento com intensidade moderada, que pode ser aumentada de acordo com as necessidades.

Já na Específica (PFE), o alvo é a elevação do desenvolvimento das características fisiológicas, aumentando o potencial do atleta para que ele suporte a alta quantidade de trabalho durante os treinos e as competições.

Além disso, a capacidade fisiológica aumentada auxilia na sua recuperação.

Para que ocorra desenvolvimento específico é necessário que o competidor faça repetições de exercícios em condições semelhantes ao de uma competição, pois treinamentos não-específicos levam a uma especialização errônea do organismo. A PFE requer um volume alto de treinamento com uma possível redução da intensidade para que não ocorram lesões e como consequência à queda na capacidade de trabalho do atleta.




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